Morcegos da Estação Ecológica Aiuaba, Ceará, Nordeste do Brasil: uma unidade de proteção integral na Caatinga

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Nesse trabalho, inventariamos a quiropterofauna da Estação Ecológica Aiuaba (ESEC Aiuaba), situada no estado do Ceará, nordeste do Brasil, e uma das poucas unidades de proteção integral no bioma Caatinga. Cinco campanhas de agosto de 2012 a dezembro de 2013 foram conduzidas. Um esforço de 31 500 h.m² de redes de neblina somadas às 30 horas de busca ativa resultou na captura de 275 espécimes pertencentes a 26 espécies, 24 gêneros e sete famílias. Desse total, 205 indivíduos (26 espécies) foram capturados nas redes de neblina, enquanto 70 (11 espécies) foram capturadas nos abrigos. A família Phyllostomidae foi a mais representativa, contribuindo com 82.9% da abundância total. A espécie mais frequente nas redes de neblina foi Artibeus planirostris (37.5% do total), seguida por Carollia perspicillata (16.5%), Micronycteris sanborni (8.8%), Glossophaga soricina (5.4%), Myotis lavali (5.3%) e Trachops cirrhosus (4.4%). Pteronotus gymnonotus, A. planirostris e M. sanborni estavam prenhes em dezembro (final da época seca) e A. planirostris, M. sanborni, Gardnerycteris crenulatum, T. cirrhosus, Molossus molossus e Myotis lavali estavam lactantes em abril (final da época chuvosa). A quiropterofauna da ESEC Aiuaba destacou-se como uma das mais diversas da Caatinga, contendo 55% da diversidade de morcegos registrada no Ceará. A diversidade elevada de molossídeos e vespertilionídeos encontrada pode ser explicada pela presença de corpos de água perenes próximos aos pontos de coleta. Nós registramos a maior abundância de M. sanborni já reportada. Os nossos resultados oriundos do monitoramento dos abrigos reforçam a importância de métodos complementares visando retratar propriamente a estruturação da taxocenose dos morcegos. Nós discutimos a variação dos carácteres diagnósticos morfológicos utilizados atualmente para diferenciar Peropteryx trinitatis e P. macrotis.


Bats of the Estacão Ecológica Aiuaba, Ceará, northeastern Brazil: an integral protection unit in the Caatinga. We sampled the chiropterofauna of the Aiuaba Ecological Station (ESEC Aiuaba), located in Ceará State, northeastern Brazil, one of the few integral protection units in the Caatinga biome. We conducted five surveys from August 2012 through December 2013. A sampling effort of 31 500 h.m² of mist nets and 30 hours of roost monitoring yielded 275 specimens classified into 26 species, 24 genera and seven families. Of these, 205 individuals (26 species) were captured in mist nets and 70 bats (11 species) were captured in roosts. Phyllostomidae was the most common family, accounting for 82.9% of the total abundance. The most common species caught in the mist nets were Artibeus planirostris (37.5% of the total), followed by Carollia perspicillata (16.5%), Micronycteris sanborni (8.8%), Glossophaga soricina (5.4%), Myotis lavali (5.3%), and Trachops cirrhosus (4.4%). Pteronotus gymnonotus, A. planirostris and M. sanborni were pregnant in December (late dry season) and A. planirostris, M. sanborni, Gardnerycteris crenulatum, T. cirrhosus, Molossus molossus and Myotis lavali were lactating in April (late rainy season). The chiropterofauna of ESEC Aiuaba is one of the most diverse in the Caatinga, including 55% of the species of bats registered in Ceará state. The high diversity of molossids and vespertilionids sampled may be explained by the presence of perennial water near the collection sites. We recorded the highest abundance of M. sanborni ever reported. Our results from roost monitoring reinforce the importance of using complementary techniques to properly reveal the bat taxocenosis. We discuss variation in the morphologic traits currently used to differentiate Peropteryx trinitatis and P. macrotis.