Trophic niche overlap and resource partitioning among wild canids in an anthropized Neotropical ecotone

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Understanding basic feeding ecology of wild animals is paramount to comprehend interspecific interactions. This is evident for three sympatric wild canids species in an unprotected ecotone between the Cerrado savanna and the Atlantic Forest ecosystems: hoary foxes (Lycalopex vetulus), crab-eating foxes (Cerdocyon thous) and maned wolves (Chrysocyon brachyurus). Their omnivorous diets may lead to competition, but knowledge gaps hinder assessments of their conservation status and how feeding habits influence potential niche overlaps. We analyzed fecal samples collected along seven years to determine how these canids utilize food resources. Insects were the main food category for both hoary and crab-eating foxes, while fruits were more important for maned wolves. Niche breadth analyses revealed narrow diet breadths for the hoary and crab-eating foxes, and medium for the maned wolf. Both smaller species presented a less diverse diet, consuming few resources very frequently and multiple resources less frequently. Niche overlap was high between hoary and crab-eating foxes, totaling 66.1% for food items and 80.8% for categories, medium between crab-eating foxes and maned wolves (36.5% for items and 52.8% for categories), and low between hoary foxes and maned wolves for food items (25.1%) and medium for categories (34.1%). Overall, our study indicates that trophic niche differences associated to termite consumption by hoary foxes and fruits by maned wolves are critical for their coexistence in unprotected Cerrado areas.


Sobreposição de nicho trófico e partilha de recursos entre canídeos silvestres em um ecótono neotropical antropizado. Estudar a ecologia alimentar básica de espécies de animais silvestres é fundamental para compreender interações interespecíficas. Isto é evidente para três espécies de canídeos silvestres simpátricos em um ecótono desprotegido entre os ecossistemas do Cerrado e da Mata Atlântica: raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Suas dietas onívoras podem levar à competição, mas as lacunas de conhecimento dificultam a avaliação de seu estado de conservação e como os hábitos alimentares influenciam potenciais sobreposições de nicho. Analisamos amostras fecais coletadas ao longo de sete anos para determinar como esses canídeos utilizam os recursos alimentares. Os insetos foram a principal categoria de alimento tanto para as raposinhas quanto para os cachorros, enquanto frutos foram mais importantes para os lobos-guará. Análises de amplitude de nicho revelaram baixa uniformidade na utilização dos recursos para raposinhas e cachorros, e média para o lobo-guará. As duas espécies menores apresentaram uma dieta menos diversificada, consumindo poucos recursos em altas frequências e muitos recursos em baixas frequências. A sobreposição de nicho foi alta entre as raposinhas e cachorros, totalizando 66.1% para itens alimentares e 80.8% para as categorias, média entre cachorros e lobos-guará (36.5% para itens e 52.8% para categorias) e baixa entre as raposinhas e lobos-guará para itens (25.1%) e média para categorias (34.1%). No geral, nosso estudo indica que as diferenças de nicho trófico associadas ao consumo de cupins por raposinhas e frutos por lobos-guará são fundamentais para sua coexistência em áreas de Cerrado desprotegidas.

Seasonal variation in foraging group size of crab-eating foxes and hoary foxes in the Cerrado Biome, Central Brazil

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In regions with a pronounced dry season, such as the Cerrado Biome (Brazilian savannah), climate seasonality may affect food availability for canid species and, consequently, their foraging behavior. We investigated seasonal variation in foraging group size of crab-eating foxes (Cerdocyon thous) and hoary foxes (Lycalopex vetulus) in the Cerrado region for three consecutive years. Data were obtained by direct observations of foraging foxes during spotlight surveys. Both species were sighted foraging individually or in pairs with or without their juvenile offspring. However, crab-eating foxes foraged in pairs more frequently in the wet season and individually more frequently in the dry season whereas hoary foxes foraged mostly individually throughout the year. The higher frequency of solitary foragers in the dry season is possibly a response to the seasonal shortages in the availability of clumped and locally abundant food resources such as fruit and insects, important items in the diet of the crab-eating fox during the wet season. The absence of seasonal variation in foraging group size of the hoary fox may be related to its specialized food habits, since termites predominate in the diet of this species in both seasons.


Variação sazonal no tamanho de grupo de forrageio em cachorros-do-mato e raposas-do-campo no bioma Cerrado, Brasil central. Em regiões com uma estação seca pronunciada, como o Bioma Cerrado (savana brasileira), a sazonalidade climática pode afetar a disponibilidade de alimento para as espécies de canídeos e, conseqüentemente, seu comportamento de forrageio. Nós investigamos a variação sazonal no tamanho de grupo de forrageio de cachorros-do-mato (Cerdocyon thous) e raposas-do-campo (Lycalopex vetulus) na região do Cerrado por três anos consecutivos. Os dados foram obtidos através de observação direta em focagens noturnas dos animais forrageando. Ambas as espécies foram avistadas forrageando individualmente ou em pares com ou sem sua prole juvenil. Entretanto, os cachorros-do-mato foram vistos forrageando em pares mais freqüentemente na estação úmida e individualmente mais freqüentemente na estação seca ao passo que as raposas-do-campo forragearam principalmente individualmente durante todos os meses do ano. A maior freqüência de forrageadores solitários durante a estação seca é possivelmente uma resposta à diminuição sazonal na disponibilidade de recursos alimentares abundantes e com distribuição agregada como frutos e insetos, itens importantes na dieta do cachorro-do-mato durante a estação úmida. A ausência de variação sazonal no tamanho de grupo de forrageio na raposa-do-campo pode estar relacionada ao seu hábito alimentar especializado, uma vez que cupins predominam na dieta desta espécie em ambas as estações.