Variação do dimorfismo sexual do tamanho da mandíbula em primatas (Catarrhini, Platyrrhini e Strepsirrhini)

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Os primatas têm uma história de vida complexa, ampla distribuição geográfica e variabilidade ecológica e reprodutiva, características que podem contribuir para a variação fenotípica. Eles podem ser divididos em três grandes grupos monofiléticos: Strepsirrhini de Madagascar, África continental e Ásia; Catarrhini da África, Europa e Ásia; e Platyrrhini da América do Norte, Central e do Sul. O presente estudo pretende descrever a variação do dimorfismo de tamanho da mandíbula nos clados de primatas, com dados padronizados utilizando a morfometria geométrica. Calculamos o índice de dimorfismo sexual para 102 espécies de primatas (19 Strepsirrhini, 54 Catarrhini e 29 Platyrrhini). Constatamos que machos tendem a ser frequentemente maiores que as fêmeas, embora o contrário também aconteça com alguma frequência. A disparidade, quantidade de variação, do índice do dimorfismo é maior em Platyrrhini, seguido de Catarrhini e por último Strepsirrhini. A maior disparidade em Platyrrhini se deve principalmente à alta variação do dimorfismo em Callitrichidae, que apresenta altos valores de dimorfismo tanto com viés para fêmeas quanto para machos, e aos altos valores de dimorfismo com viés para machos em Atelidae e Cebidae. Catarrhini apresenta dimorfismo mais frequentemente relacionado ao aumento do tamanho de machos, enquanto em Strepsirrhini os animais tendem a ser monomórficos. Nossos resultados indicam a possibilidade de que a evolução do dimorfismo do tamanho seja resultado de processos adaptativos e biogeográficos ao longo da diversificação do grupo. Encorajamos estudos futuros a analisarem diferentes hipóteses adaptativas na evolução do dimorfismo de tamanho em Primatas.


Sexual size dimorphism in clades of primates. Primates have complex life histories, wide geographic distributions, and ecological and reproductive variability, characteristics that may contribute to phenotypic variation. They can be divided into three major monophyletic groups: Strepsirrhini from Madagascar, continental Africa, and Asia; Catarrhini in Africa and Asia; and Platyrrhini in the Americas. Here, we aimed to describe the size dimorphism of the mandible in the main primate clades using standardized geometric morphometric data. We calculated the index of sexual dimorphism for 102 primate species (19 Strepsirrhini, 54 Catarrhini, and 29 Platyrrhini). Our results show that males are often larger than females, although the opposite also occurs with some frequency. The disparity of sexual dimorphism, the amount of variation, is higher in Platyrrhini, followed by Catarrhini, and then Strepsirrhini primates. The higher disparity in Platyrrhini is particularly due to the high disparity in Callitrichidae, which have high values for both female- and male-bias dimorphism, along with the high levels of male-biased sexual dimorphism in Atelidae and Cebidae. Catarrhini sexual dimorphism is frequently male-biased, while Strepsirrhini species tend to be more monomorphic. Our results suggest that the evolution of sexual dimorphism may be a consequence of adaptive and biogeographic processes throughout the diversification of the groups. We encourage future studies to analyze different adaptive hypotheses for the evolution of sexual size dimorphism in primates.

Graphical abstract for the article “Variação do dimorfismo sexual do tamanho da mandíbula em primatas (Catarrhini, Platyrrhini e Strepsirrhini)” (Borges de Melo et al., 2023)

Efeito do tamanho de área sobre a riqueza e composição de pequenos mamíferos da Floresta Atlântica

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A Floresta Atlântica é uma das principais vegetações do Brasil, mas está ameaçada pelo uso da terra. O estudo objetiva analisar os efeitos do tamanho de área e da conservação sobre a riqueza de espécies de pequenos mamíferos (roedores e marsupiais) nessa formação vegetal. Também, analisa se há um padrão direcional de perdas de espécies entre comunidades ricas e pobres em espécies. Foi realizada uma revisão bibliográfica de pesquisas contidas na literatura sobre pequenos mamíferos em diferentes áreas da Floresta Atlântica, gerando um banco de dados contendo informações sobre tamanho de fragmento florestal, status de conservação e riqueza e composição de espécies. Os roedores revelaram correlação positiva com o tamanho de área, assim como a proporção de roedores de hábito florestal foi correlacionada com o grau de conservação das áreas. A composição total de espécies e a composição de roedores revelaram-se aninhadas com NODF = 23.69 e 24.73 respectivamente (P < 0.001). A fragmentação florestal afeta principalmente os roedores, tanto em relação ao tamanho de área disponível quanto ao grau de conservação. Isto ressalta a relevância da preservação adequada, levando em conta que algumas espécies são vulneráveis à extinção. Pequenos roedores são uma parte importante da diversidade encontrada na Floresta Atlântica, servindo como bioindicadores, enquanto destacam a fragilidade do grupo perante a perda de habitats com o severo ritmo
de fragmentação do bioma.


Effects of area size on the species richness and composition of small mammals in the Atlantic Forest of Brazil. The Atlantic Forest is one of the main biomes of Brazil, but it is threatened by the land use. The study aimed to analyze the effects of area size and conservation on the species richness of small mammals (rodents and marsupials) in the biome. It also analyzes if there is a directional pattern of species loss from species-rich communities to those poor in species. We carried out a literature review on small-mammal species composition in different areas of the Atlantic Forest, generating a database containing information about fragment size, conservation status, and species richness and composition. Rodent abundance showed a positive correlation with the area size whereas there was also a correlation between the proportion of forest-dwelling rodents and the degree of conservation. The composition of all species and that of rodents revealed as nested subset with NODF = 23.69 and 24.73 respectively (P < 0.001). Forest fragmentation affects mainly rodents, just in relation to area size and degree of conservation. This highlights the importance of correct preservation of the Atlantic Forest, taking into account that some species are vulnerable to extinction. Small rodents are a comprehensive part of the Atlantic Forest diversity, being bioindicators in this biome, while we highlight the fragility of this mammal group by the habitat loss caused by the severe fragmentation rate of the biome.

Variação espacial e sazonal de atropelamentos de mamíferos no Bioma Cerrado, rodovia BR 262, sudoeste do Brasil

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Foram examinadas a composição e abundância das espécies de mamíferos atropeladas em dois trechos da rodovia BR 262, a relação dos atropelamentos com a distância de centros urbanos, a escala espacial dos atropelamentos, a distribuição dos atropelamentos segundo a sazonalidade e a relação dos atropelamentos com o número de veículos. Os animais atropelados foram registrados durante 2 anos e 4 meses entre Campo Grande e Miranda, estado do Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil. Ao todo foram registrados 231 espécimes de mamíferos distribuídos em 20 espécies, sendo Carnivora, Cingulata e Pilosa as principais ordens. Os atropelamentos foram mais intensos conforme o distanciamento dos grandes centros urbanos. Na análise de distribuição espacial e sazonal dos atropelamentos, Cerdocyon thous e Tamandua tetradactyla apresentaram picos definidos de atropelamentos em certos trechos da estrada, marcados sazonalmente. Não houve diferença na riqueza de espécies entre os trechos estudados nem entre as estações climáticas. Porém, o número total de atropelamentos se mostrou mais acentuado no trecho da rodovia que estava mais próximo ao Pantanal, com destaque para as ordens Carnivora e Pilosa. Em geral, houve mais atropelamentos durante o período chuvoso, com destaque para a ordem Cingulata. Recomendações de manejo são feitas com o objetivo de diminuir o efeito prejudicial da estrada, tais como uso de placas sinalizadoras de locais e épocas críticas de atropelamentos, uso de cercas de contenção de fauna em trechos críticos e facilitação para a movimentação da fauna através da rodovia, de modo seguro.


Spatial and seasonal variation of mammal road kill in the BR-262 highway, Cerrado biome, southwestern Brazil. The composition and abundance of mammal road kills were examined on two stretches of the BR-262 Federal Road, besides relationship between city distance and road kill, road-kill spatial distribution, seasonality effects, and relationship with vehicles daily volume. The killed animals were registered over 2 years and 4 months, between Campo Grande and Miranda, in southwestern Brazil. A total of 231 mammal specimens was found, which were distributed in 20 species, being Carnivora, Cingulata and Pilosa the main orders. The road-kill frequency was more intense far from big urban centers. Analyzing the spatial distribution of road kills, Cerdocyon thous and Tamandua tetradactyla showed defined peaks of road kill, in specific sites of the road, being also seasonally marked. There were no differences in the species richness between road stretches or between seasons. However, the number of road kills was higher in the stretch near the Pantanal biome, with emphasis on Carnivora and Pilosa. Overall, there were more road kills during the rainy season, with Cingulata as the main order. Management recommendations are done in order to diminish the road impact, such as the use of road sign in critical locations for road kills, use of fences for faunal contention in critical stretches, and facilitation of faunal movements for crossing safely the road.

Efeito do gradiente floresta-cerrado-campo sobre a comunidade de pequenos mamíferos do Alto do Maciço do Urucum, oeste do Brasil

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O Maciço do Urucum é uma região montanhosa localizada na borda oeste do Pantanal, sendo caracterizado pelo contato entre ambientes florestais, savânicos e campestres. Acredita-se que em paisagens como as do Maciço do Urucum, a estrutura da comunidade de pequenos mamíferos seja fortemente influenciada pela diversidade de habitats. Neste estudo procuramos determinar a influência do gradiente floresta-cerrado-campo sobre a estrutura da comunidade de pequenos mamíferos não-voadores no Maciço do Urucum, oeste do Brasil. Para amostrar as espécies de pequenos mamíferos foram utilizadas armadilhas de interceptação e queda, instaladas em manchas de floresta semidecídua, cerrado stricto sensu e em campos de altitude. No total, foram amostradas 10 espécies de pequenos mamíferos não-voadores, nove em florestas semidecíduas, quatro em cerrado stricto sensu e cinco nos campos de altitude. Entretanto, não houve diferença significativa entre os habitats amostrados quanto à abundância, riqueza e diversidade de espécies. As florestas semidecíduas apresentaram quatro espécies que foram exclusivas deste ambiente, enquanto os campos de altitude apresentaram apenas uma espécie exclusiva. Não houve forte influência do gradiente floresta-cerrado-campo sobre a estrutura da comunidade local de pequenos mamíferos, uma vez que nove espécies (90%) ocorreram em florestas semidecíduas. Uma razão para isto é o provável efeito de borda sobre os habitats florestais com relação às espécies de habitats abertos. Finalmente, as espécies registradas neste estudo foram divididas em dois grupos: as generalistas, registradas simultaneamente em florestas e áreas abertas, e as aparentemente especialistas, que só foram amostradas em florestas semidecíduas e nos campos.


Effect of the forest-savanna-grassland gradient on the small mammals of the high Urucum Mountains, west of Brazil. The Urucum Mountains comprehend a hilly region in western Brazil which lies in the western edge of the Pantanal wetlands, being characterized by the contact among forests, savannas and grasslands. It is usually known that the community structure of small mammals is strongly influenced by the habitat diversity. Based on this, we determined the influence of the forest-savanna-grassland gradient in the structure of the small mammal community in the Urucum Mountains. For sampling small mammal species, pitfall traps were installed within semideciduous forests, savannas and grasslands. In total, 10 species were recorded, nine in semideciduous forest, four in savanna and five in grassland. However, there is no significant difference between habitats in relation to abundance, richness and species diversity. Four species were recorded exclusively in the semideciduous forest, and only one was exclusively recorded in the grassland. There was no strong influence of the forest-savanna-grassland gradient on the structure of local small mammal community, since nine species (90%) occurred in semideciduous forest. A reason for this was a probable edge effect on forested habitats with regard to open habitat species. Finally, species recorded in this study were divided in two groups: the generalist species recorded simultaneously in forest and open habitats, and the apparently specialist species recorded only within forests or grasslands.