Evidences of non-lethal rabies virus exposure in free-ranging wild carnivores from Brazilian Pampa

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Rabies virus (RABV) may infect wildlife, domestic mammals, and humans worldwide, and outbreaks have been associated with population declines of wild carnivores. Although RABV infection has been considered almost invariably fatal, there has been growing evidence of non-lethal RABV exposure in wildlife. The aim of this study is to investigate the occurrence of RABV antibodies, as evidence of non-lethal exposure to the virus in free-living wild canids and felids from the Brazilian Pampa. Animals were live-trapped in three protected and two unprotected areas in Southern Brazil, and the presence of antibodies against RABV was verified by the RFFIT test. A total of 98 specimens without clinical signs of disease were live-trapped: 35 Cerdocyon thous, 23 Lycalopex gymnocercus, 29 Leopardus geoffroyi, 11 Leopardus wiedii. Thirteen out of 98 wild carnivores were considered seropositive to RABV: five C. thous, one L. gymnocercus, five L. geoffroyi, and two L. wiedii. All five localities where animals were sampled had at least one seropositive individual. The results support previous conclusions regarding the possible involvement of C. thous in the rabies ecology and expand the findings of RABV-seropositivity in free-living wildlife, representing the first record for the following species: L. gymnocercus, L. geoffroyi, and L. wiedii. Our findings also suggest that RABV circulation and non-lethal exposure in Neotropical wild carnivores may be more common than previously assumed. Furthermore, rabies and its sylvatic cycle should be taken into account in any conservation effort for wild carnivores.


Evidências de exposição não-letal ao vírus da raiva em carnívoros silvestres de vida livre no Pampa brasileiro. O vírus da Raiva (RABV) pode infectar mamíferos silvestres, domésticos e humanos em todo o mundo, e surtos têm sido associados com declínios populacionais em carnívoros silvestres. Apesar da infecção pelo RABV ser considerada invariavelmente fatal, há evidências crescentes de exposição não-letal em animais silvestres. O objetivo deste trabalho é investigar a ocorrência de anticorpos contra RABV, como evidência de exposição não-letal ao vírus em canídeos e felídeos de vida livre no Pampa brasileiro. Os animais foram capturados em três áreas de preservação e duas áreas não-protegidas do Sul do Brasil, e a presença de anticorpos contra RABV foi verificada por RFFIT. Um total de 98 espécimes sem sinais de doença foram capturados: 35 Cerdocyon thous, 23 Lycalopex gymnocercus, 29 Leopardus geoffroyi e 11 Leopardus wiedii. Treze dos 98 carnívoros silvestres foram considerados soropositivos para RABV: cinco C. thous, um L. gymnocercus, cinco L. geoffroyi, e dois L. wiedii. Todas as cinco localidades onde os animais foram amostrados apresentaram ao menos um indivíduo soropositivo. Os resultados corroboram conclusões anteriores sobre o possível envolvimento de C. thous na ecologia da raiva, e expandem os achados de soropositividade para RABV em animais silvestres, representando o primeiro registro para as seguintes espécies: L. gymnocercus, L. geoffroyi e L. wiedii. Nossos resultados também sugerem que a circulação do RABV e a exposição não-letal em carnívoros silvestres neotropicais pode ser mais comum do que previamente assumido. Outrossim, a raiva e seu ciclo silvestre devem ser levados em consideração em qualquer esforço de conservação de carnívoros silvestres.

Graphical abstract for the article “Evidences of non-lethal rabies virus exposure in free-ranging wild carnivores from Brazilian Pampa” (Padilha et al., 2024)

Felinos neotropicais como hospedeiros de agentes zoonóticos no Brasil

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Os mamíferos apresentam papel central no ciclo de várias zoonoses e o estudo de sua prevalência e distribuição é extremamente importante para prevenir surtos e criar profilaxias. As espécies de felinos silvestres têm cada vez mais contato com os humanos, expondo-os a possíveis transbordamento ou compartilhamento de vários patógenos e participando do ciclo de várias zoonoses. Nosso objetivo foi investigar a participação das espécies de felinos silvestres do Brasil em ciclos zoonóticos, a partir de dados secundários. Foram encontrados registros de 19 zoonoses para 10 espécies de felinos silvestres, incluindo duas causadas por vírus, cinco por nematoides, quatro por protozoários e oito por bactérias. A zoonose com maior prevalência causada por vírus foi a raiva, por protozoários foi a toxoplasmose, por bactérias destacam-se brucelose e leptospirose, enquanto que por nematoides destaca-se a ancilostomose e toxocaríase. As espécies Leopardus pardalis, Leopardus tigrinus, Panthera onca e Puma concolor apresentaram maior número de registros de patógenos e distribuição mais ampla dos registros pelas regiões brasileiras. Os registros desses patógenos ocorreram principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Observa-se o papel dos membros dessa família como reservatórios de agentes de várias zoonoses letais, embora a leptospirose apresente registro de diferentes sorovares, incluindo alguns não patogênicos ao homem. Esses resultados trazem à luz a importância da preservação e manutenção dos habitats naturais dessas espécies como medida de saúde pública, a fim de prevenir a proliferação dessas zoonoses, tanto para os humanos quanto para os animais. A preservação dos ambientes naturais dos felinos poderia minimizar possíveis trocas de patógenos entre essas espécies e os animais domésticos e, consequentemente, com os humanos, além de diminuir a probabilidade de contato direto desses com os felinos.


Neotropical Felidae as hosts of zoonotic agents in Brazil. Mammals play a central role in the cycle of several zoonoses; the study of their prevalence and distribution is extremely important to prevent outbreaks and create prophylaxis mechanisms. Wild feline species have been increasingly in contact with humans, exposing them to possible overflow or sharing of various pathogens and participating in the cycle of numerous zoonoses. Our objective was to investigate the participation of Brazilian feline species in zoonotic cycles, through secondary data analysis. We found records of 19 zoonoses for 10 feline species, including two caused by viruses, five by nematodes, four by protozoa, and eight by bacteria. The zoonosis with highest prevalence caused by viruses was rabies, by protozoa was toxoplasmosis, by bacteria were brucellosis and leptospirosis; while by nematodes were hookworm and toxocariasis. The species Leopardus pardalis, Leopardus tigrinus, Panthera onca, and Puma concolor presented highest number of records of pathogens and wider distribution of records through Brazilian regions. Records of these pathogens occurred mainly in the Central West and Southeast regions of Brazil. The role of the members of family Felidae as reservoirs of agents of several lethal zoonoses is observed, although leptospirosis presents a register of different serovars, including some non-pathogenic to humans. These results bring to light the importance of preserving and maintaining the natural habitats of these species as a public health measure, in order to prevent the proliferation of these zoonoses, both for humans and animals. The preservation of feline natural environments could minimize possible pathogen exchanges between these species and domestic animals and, consequently, with humans, as well as reducing the likelihood of their direct contact with felines.